Meu Segredo
Publicado na Folha Nova, nº 951, 10 de junho de 1934.
À Aparecida Moreira
– Pensando em ti compus estes versos desataviados, os quais tão bem traduzem a grande dor que crucia a minha alma. Guarda-os. Fi-los para ti só. Que a fatalidade nunca te chegue aos labios virginais a taça amarga da desilusão.
Amaste um dia só… Esse amor, tua vida,
Era o teu céu azul, a tua primavera,
A fonte cristalina, embora incompreendida,
Dos castos sonhos teus – sou eu quem o assevera.
Sei que tudo perdeste, e tua alma, assim ferida,
Pela desesperança atroz que desespera,
Tece a branca mortalha, e envolve comovida
Teu grande e santo amor, com sua mão severa.
Choras. Mas o teu pranto é rocio que consola:
Em caindo na flor, perfuma-lhe a corola,
Em lançado ao Céu, será constelação.
Ai! Como tu, não pude amortalhar ainda
Meu malfadado amor, minha saudade infinda…
– És mais feliz do que eu – tens livre o coração.
Fátima Cléu
Outubro de 1932
Nenhum comentário